18 de abril de 2016

Estudo: Ejacular mais diminui o risco de câncer de próstata

Os homens podem reduzir seu risco de câncer de próstata se ejacularem com frequência.



O estudo sobre a ejaculação e o risco de câncer de próstata que fez muito barulho na reunião anual da American Urological Association (AUA) no ano passado, foi publicado online em 29 de março noperiódico European Urology.
No artigo estão os detalhes da principal descoberta: que os homens podem reduzir seu risco de câncer de próstata se ejacularem com frequência.
"Este grande estudo prospectivo fornece as mais sólidas evidências até hoje coletadas sobre as vantagens da ejaculação para a prevenção do câncer de próstata", escreveram os pesquisadores sob a batuta de Jennifer Rider, epidemiologista na área de oncologia da Boston University School of Public Health.
Todavia, outra especialista jogou um balde de água fria na possibilidade de tirar alguma conclusão sólida.
"Associação não significa causalidade, temos que ter cautela na interpretação desses dados observacionais", disse Janet Stanford, pesquisadora em câncer de próstata no Fred Hutchison Cancer Research Center em Seattle, que não participou do estudo.
Os dados provêm de 31.925 participantes do estudo prospectivo Health Professionals Follow-up Study, acompanhados de 1992 a 2010. A média de idade dos homens em 1992 era de 59 anos.
Durante os 18 anos de acompanhamento, 3.839 homens tiveram diagnóstico de  câncer de próstata, dos quais 384 casos foram fatais.
Um questionário aplicado em 1992 solicitou aos participantes que informassem a média de sua frequência mensal de ejaculação em três fases de sua vida: dos 20 aos 29 anos, dos 40 aos 49 anos e no ano anterior.

Associação não significa causalidade.

Depois de controlar os potenciais elementos de confusão para a análise multivariada, o risco relativo de câncer de próstata foi aproximadamente 20% menor entre os homens que ejacularam pelo menos 21 vezes por mês do que entre os homens que ejacularam quatro a sete vezes por mês. Entre aqueles com maior frequência de ejaculação, esta redução do risco foi observada nas três fases da vida avaliadas (tendência de P < 0,0001 em todas as fases).

Depois da apresentação inicial dos resultados na reunião da AUA, o estudo recebeu muita atenção da mídia, observou a Dra. Rider. Mas em parte do relatório a ênfase encontrava-se nos homens que ejacularam pelo menos 21 vezes por mês, ela explicou.

É fato que a redução do risco foi mais pronunciada entre aqueles com maior frequência de ejaculação do que entre aqueles com menor frequência, reconheceu ela. (Muito poucos homens informaram de zero a três ejaculações por mês, de modo que aqueles que referiram quatro a sete ejaculações por mês foram considerados como grupo de referência.)
Porém, houve uma redução significativa de 10% do risco relativo entre os homens que informaram oito a 12 ejaculações por mês no período entre 40 a 49 anos de idade, e de 20% entre os homens que relataram 13 a 20 ejaculações por mês dos 40 aos 49 anos (tendência de P < 0,0001).
Numa entrevista para o Medscape no ano passado, a Dra. Rider advertiu sobre a ênfase nos números na extremidade superior dos resultados.

“Nós não devemos nos fixar nos números exatos de episódios de ejaculação, mas preferivelmente devemos concentrar na relação da dose-resposta", recomendou a Dra. Rider naquele momento.

A atividade sexual protegida pode ser benéfica para a saúde da próstata.

 
Ela resumiu: A atividade sexual protegida pode ser benéfica para a saúde da próstata.
Particularmente, não houve nenhuma associação entre a frequência da ejaculação e doença grave, avançada ou fatal. Não sabemos qual é a explicação desse fenômeno.
O efeito de redução do risco observado no estudo é "modesto", de acordo com a equipe da Dra. Rider e do Dr. Stanford. E os pesquisadores reconhecem que outros estudos já tinham indicado a atividade sexual como possível fator de risco modificável para o câncer de próstata.

Perfil dos participantes com maior frequência de ejaculação

"Os homens com história de maior frequência de ejaculações mensais (pelo menos 21) formam um grupo interessante", disse a Dra. Rider para o Medscape Medical News em uma nova entrevista por ocasião da publicação do estudo.

Eles consumiram mais calorias do que aqueles com menor frequência de ejaculação, tomaram mais bebidas alcoólicas, contraíram mais doenças sexualmente transmissíveis (sífilis e gonorreia), e tiveram maior probabilidade de ser fumantes ou ex-fumantes. Também tiveram menor probabilidade de ter realizado rastreamento do antígeno prostático - PSA.

Todos estes fatores preocuparam os pesquisadores. Indicam que estes homens "tiveram padrões de exposição sexual que os coloca em maior risco de morbidade e mortalidade por outras causas.
"Nos interessamos em saber se a redução do risco de câncer de próstata que observamos neste grupo poderia ser atribuível a morte prematura por outras causas, entre homens que podem não ter chegado a fazer o diagnóstico de um câncer de próstata", explicaram.
Mas através de um "modelo de riscos semicompetitivos", os pesquisadores observaram que a redução do risco de câncer de próstata entre os homens com história de maior frequência de ejaculações "aparentemente não pode ser explicada isoladamente pela ocorrência de morte prematura por outras causas".

A Dra. Stanford ficou impressionada com a profundidade da pesquisa.
“As análises foram abrangentes e foram consideradas explicações alternativas para a associação inversa observada", resumiu ela em um e-mail para a Medscape Medical News.
Ela também comentou que os dados do estudo são de "alta qualidade", e que ela está entusiasmada sobre possíveis mecanismos de ação a serem pesquisados no futuro.
"Estes interessantes resultados devem estimular a realização de mais pesquisas sobre como a ejaculação pode alterar o microambiente da próstata", ela observou.
Os pesquisadores conjecturam sobre o que poderia estar atuando mecanicamente, e oferecem uma explicação: pode ser que a próstata acumule secreções potencialmente carcinogênicas com o potencial de conduzir ao câncer de próstata. Esta ideia, conhecida como a hipótese da estagnação prostática, já circula há décadas, informa a Dra. Ridel.




Pode ser que a próstata acumule secreções potencialmente carcinogênicas com o potencial de conduzir ao câncer de próstata.





Dr. Audie Nathaniel Momm - Médico
Mestre em Ciência e Tecnologia de Alimentos

Referência:
  • Eur Urol. Publicado online em 29 de Março, 2016.
  • RIDER, Jennifer R. et al. Ejaculation Frequency and Risk of Prostate Cancer: Updated Results with an Additional Decade of Follow-up. European Urology, 2016.

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