Altos níveis de atividade física no momento do lazer estão associados com um risco significativamente menor de desenvolver diversos tipos de cânceres, segundo os resultados de uma análise agrupada de mais de um milhão de pessoas dos Estados Unidos e Europa.
Os achados, publicados online em 16 de maio no JAMA Internal Medicine, indicam que altos níveis de atividade física reduziram o risco de desenvolvimento de 13 dos 26 cânceres estudados.
Para esse grupo de 13 cânceres, a redução do risco variou de 10% a 42%.
Os cânceres afetados foram:
Adenocarcinoma de Esîofago |
Câncer de Fígado |
Câncer de Pulmão |
Câncer de Cardia Gástrica |
Câncer de Cólon |
Câncer de Mama |
Câncer de Rim |
Câncer de Endométrio |
Câncer de Cabeça e Pescoço |
Câncer de Reto |
Câncer de Bexiga |
Leucemia |
Mieloma |
Os cânceres com risco não positivamente afetado pela atividade física incluíram os de próstata e o melanoma.
“Esses achados suportam que a promoção da atividade é um componente-chave dos esforços de prevenção e controle do câncer na população”, dizem os pesquisadores.
Em um editorial
que acompanhou o estudo, Marilie D. Gammon, da Gillings School of
Public Health, University of North Carolina em Chapel Hill, descreveu
os resultados como empolgantes, pois eles “destacam a importância da
atividade física no momento do lazer como uma estratégia potencial de
redução de risco para diminuir o fardo do câncer nos Estados Unidos e
em todo o mundo”.
Ela enfatizou a necessidade de mais pesquisas
para a compreensão dos mecanismos para a associação entre atividade
física e câncer e sobre o momento crítico para exposição ao exercício,
assim como os tipos e quantidades de atividade que possuem maior
impacto.
O pesquisador principal Steven C. Moore, do National Cancer Institute, em Bethesda, Maryland, disse ao Medscape que três mecanismos foram propostos para relacionar a atividade física ao menor risco de câncer.
- O primeiro seria via hormônios sexuais. Estudos prévios mostraram, por exemplo, que os estrogênios estão em menores níveis em mulheres fisicamente ativas.
- “A segunda hipótese está relacionada a insulina, pois pessoas ativas apresentam menores níveis de insulina, e a ela própria pode ser um fator de risco para o câncer”, disse ele.
- O terceiro está conectado à inflamação, com estudos indicando que o exercício está relacionado a menores níveis de marcadores inflamatórios, e que a inflamação “é um fator de risco para o câncer em geral”.
Embora aparentemente, de acordo com os achados atuais, a
relação entre atividade física e risco de câncer seja mais intensa
para cânceres gastrointestinais e hematológicos, não foi possível
determinar qual das três hipóteses tem maior probabilidade de explicar a
associação.
Moore disse: “É difícil fixar com exatidão, pois em
um estudo ideal você gostaria de ter a atividade física e esses fatores
inflamatórios medidos e o desfecho do câncer, e ninguém fez esse
estudo”.
Os achados mais do que nunca fortalecem as recomendações de níveis mínimos de atividade física, pois a mensagem de que o exercício reduz o risco de câncer pode ser acrescentada àquela para doença cardiovascular.
Moore observou: “Em termos de fazer com
que as pessoas se exercitem, depende do número de comunidades e do
número de distritos eleitorais investidos nessa mensagem de saúde
pública”.
Para ele, o estudo “no mínimo em parte alinha a evidência para o câncer com a evidência para doença cardíaca”. Moore
disse: “Em outras palavras, há evidência suficiente para sugerir que a
atividade física pode ser uma parte importante da prevenção do câncer e
mensagens de controle, então isso pode ser divulgado dentro da
comunidade de pesquisa, e talvez também com o terceiro setor.”
Detalhes do estudo
Para a análise, os pesquisadores agruparam dados de 12 coortes prospectivas da Europa e dos Estados Unidos que incluíram atividade física auto relatada, reunindo um total de 1,44 milhão de indivíduos (mediana de idade 59 anos).
Por conta de diferentes medidas de atividade física usadas nos estudos, a equipe converteu a atividade para equivalentes metabólicos (METs), sendo o exercício de intensidade moderada definido como 3 ou mais METs. O nível de atividade mediano foi equivalente a 150 minutos de atividade de intensidade moderada por semana, ou 75 minutos de intensidade vigorosa, ou a combinação equivalente.
Níveis de intensidade maiores na atividade física no momento do lazer estiveram associados com idade mais jovem, maior educação, menor índice de massa corporal (IMC), e menor probabilidade de ser um tabagista atual.
Durante um seguimento médio de 11 anos, foram registrados 186.932 casos incidentes de câncer.
Os pesquisadores descobriram que níveis mais altos de atividade física estiveram associados com um risco aumentado de câncer de próstata (hazard ratio [HR], 1,05) e melanoma maligno (HR 1,27). Análises mais detalhadas mostraram que o último foi estatisticamente significativo apenas nas regiões dos EUA onde ocorrem níveis elevados de radiação ultravioleta (HR 1,26).
Houve ainda sugestão de associações entre o aumento da atividade física e redução do risco de câncer de vesícula biliar, intestino delgado, e linfoma não-Hodgkin.
Foi estimado que a atividade física esteve associada com uma redução global de 7% no risco de desenvolver câncer (HR 0,93).
Embora o IMC tenha reduzido a associação para diversos cânceres, 10 das associações inversas permaneceram significativas após ajuste. O tabagismo modificou a associação apenas para câncer de pulmão.
O editorialista Marilie Gammon disse ao Medscape que a análise agrupada fortaleceu a evidência para uma associação entre atividade física e alguns dos cânceres mais raros. “É realmente bom ser capaz de juntar tudo isso, pois cada um dos estudos individuais tinha pouco poder”, disse ela.
Ela acredita que a intensidade e a duração da atividade física necessárias para reduzir o risco de câncer é provavelmente específica para cada tumor. “Por exemplo, foi muito mais fácil para nós perceber que a atividade física estava relacionada ao câncer de cólon, mas foi muito, muito mais difícil fazer isso com a mama, e acredito que é possível que esteja relacionado a dose e intensidade”.
Ela acrescentou: “Eu acho que vamos precisar de fazer mais estudos individuais para tentar estabelecer isso com mais segurança , mas no momento eu diria que a melhor evidência é o que o CDC recomenda."
A Dra. Marilie concluiu que é “realmente esperançoso” ter a possibilidade de “uma estratégia tão boa ser capaz de reduzir o risco de desenvolver cânceres, pois alguns dos cânceres naquela lista são muito raros e bastante fatais”.
O estudo foi financiado pelo Intramural Research Program of the National Institutes of Health. O trabalho refletido no editorial recebeu apoio em parte por fundo do National Institutes of Health. Os autores e editorialistas não declararam relações financeiras relevantes.
JAMA Intern Med. Publicado online em 16 de maio de 2016.
Para a análise, os pesquisadores agruparam dados de 12 coortes prospectivas da Europa e dos Estados Unidos que incluíram atividade física auto relatada, reunindo um total de 1,44 milhão de indivíduos (mediana de idade 59 anos).
Por conta de diferentes medidas de atividade física usadas nos estudos, a equipe converteu a atividade para equivalentes metabólicos (METs), sendo o exercício de intensidade moderada definido como 3 ou mais METs. O nível de atividade mediano foi equivalente a 150 minutos de atividade de intensidade moderada por semana, ou 75 minutos de intensidade vigorosa, ou a combinação equivalente.
Níveis de intensidade maiores na atividade física no momento do lazer estiveram associados com idade mais jovem, maior educação, menor índice de massa corporal (IMC), e menor probabilidade de ser um tabagista atual.
Durante um seguimento médio de 11 anos, foram registrados 186.932 casos incidentes de câncer.
Os pesquisadores descobriram que níveis mais altos de atividade física estiveram associados com um risco aumentado de câncer de próstata (hazard ratio [HR], 1,05) e melanoma maligno (HR 1,27). Análises mais detalhadas mostraram que o último foi estatisticamente significativo apenas nas regiões dos EUA onde ocorrem níveis elevados de radiação ultravioleta (HR 1,26).
Houve ainda sugestão de associações entre o aumento da atividade física e redução do risco de câncer de vesícula biliar, intestino delgado, e linfoma não-Hodgkin.
Foi estimado que a atividade física esteve associada com uma redução global de 7% no risco de desenvolver câncer (HR 0,93).
Embora o IMC tenha reduzido a associação para diversos cânceres, 10 das associações inversas permaneceram significativas após ajuste. O tabagismo modificou a associação apenas para câncer de pulmão.
O editorialista Marilie Gammon disse ao Medscape que a análise agrupada fortaleceu a evidência para uma associação entre atividade física e alguns dos cânceres mais raros. “É realmente bom ser capaz de juntar tudo isso, pois cada um dos estudos individuais tinha pouco poder”, disse ela.
Ela acredita que a intensidade e a duração da atividade física necessárias para reduzir o risco de câncer é provavelmente específica para cada tumor. “Por exemplo, foi muito mais fácil para nós perceber que a atividade física estava relacionada ao câncer de cólon, mas foi muito, muito mais difícil fazer isso com a mama, e acredito que é possível que esteja relacionado a dose e intensidade”.
Ela acrescentou: “Eu acho que vamos precisar de fazer mais estudos individuais para tentar estabelecer isso com mais segurança , mas no momento eu diria que a melhor evidência é o que o CDC recomenda."
A Dra. Marilie concluiu que é “realmente esperançoso” ter a possibilidade de “uma estratégia tão boa ser capaz de reduzir o risco de desenvolver cânceres, pois alguns dos cânceres naquela lista são muito raros e bastante fatais”.
O estudo foi financiado pelo Intramural Research Program of the National Institutes of Health. O trabalho refletido no editorial recebeu apoio em parte por fundo do National Institutes of Health. Os autores e editorialistas não declararam relações financeiras relevantes.
JAMA Intern Med. Publicado online em 16 de maio de 2016.
Referência
- HAAPANEN, Nina et al. Association of leisure time physical activity with the risk of coronary heart disease, hypertension and diabetes in middle-aged men and women. International journal of epidemiology, v. 26, n. 4, p. 739-747, 1997.