27 de novembro de 2016

Adoçantes durante a gestação causa sobrepeso na infância


O consumo de adoçantes durante a gravidez pode aumentar o risco de sobrepeso na primeira infância.


O consumo materno diário de bebidas contendo adoçantes artificiais durante a gravidez foi relacionado a aumento de 0,20 unidades de pontuação z do índice de massa corporal (IMC) do bebê e a risco duas vezes maior de sobrepeso, segundo um novo estudo realizado com 2.413 pares mãe-bebê.

"Até onde sabemos, nossos resultados oferecem os primeiros indícios em humanos que o consumo de adoçantes durante a gravidez possa aumentar o risco de sobrepeso na primeira infância", observam os pesquisadores. Eles destacam que mais da metade dos americanos informa consumir bebidas nas quais adoçantes não nutritivos substituem o açúcar.

Meghan B. Azad, PhD do Department of Pediatrics and Child Health, University of Manitoba e Children's Hospital Research Institute of Manitoba, ambos em Winnipeg, Canadá, junto com seus colegas do Canadian Healthy Infant Longitudinal Development Study Investigators comunicam suas descobertas em um artigo publicado on-line em 9 de maio no JAMA Pediatrics.

As mulheres preencheram questionários sobre sua alimentação durante a gravidez e o IMC dos bebês foi aferido quando completaram um ano de idade.

Em geral, 29,5% das mães relataram consumo de bebidas contendo adoçantes artificiais durante a gravidez, das quais 5,1% informaram consumo diário; 77,2% das mães referiram ingestão de bebidas adoçadas com açúcar, das quais 23,4% informaram consumo diário.

A média de pontuação z do IMC dos bebês foi 0,19 com um ano de idade e 5,1% dos bebês estavam acima do peso.

As maiores pontuações z de IMC foram observadas entre os bebês das mães com história de consumo diário de bebidas contendo adoçantes artificiais [média (desvio padrão, DP) 0,55 (1,01) vs.0,17 (1,04) em comparação às mães cujo consumo do mesmo tipo de bebidas não foi diário; β, 0,37; intervalo de confiança (IC) de 95%, 0,18 a 0,57].

Esta associação diminuiu após o ajuste pelo IMC materno, e diminuiu ainda mais após o ajuste por outras covariáveis, como ingestão energética total materna, qualidade da dieta, tabagismo, diabetes, educação, sexo do bebê, peso ao nascer, duração do aleitamento materno e introdução de alimentos sólidos. No entanto, mesmo após ajuste completo, o consumo diário de bebidas contendo adoçantes artificiais manteve uma associação significativa com o aumento da pontuação zdo IMC infantil [β ajustado (a β), 0,22; IC de 95% 0,02 a 0,41).

Por outro lado, a ingestão de bebidas adoçadas com açúcar não foi associada a pontuação z de IMC infantil [β, 0,11 (IC de 95%, - 0,02 a 0,23); a β, 0,07 (IC de 95%, - 0,06 a 0,19) para mulheres que não consumiram essas bebidas comparadas àquelas com história de consumo diário do mesmo tipo de bebidas).

Os pesquisadores identificaram maior incidência de sobrepeso entre os bebês nascidos de mães que referiram consumo diário de bebidas contendo adoçantes artificiais [10,4% vs. 4,5% para mulheres que não consumiram comparadas àquelas com história de consumo diário; razão de chances (odds radio, OR), 2,43; IC de 95%, 1,30 a 4,55].


Estas associações foram reduzidas, porém permaneceram significativas, após a realização dos ajustes pelo IMC materno e outras covariáveis [OR ajustada (aOR), 1,94; IC de 95%, 1,00 a 3,76]. Novamente, o consumo materno de bebidas adoçadas com açúcar não foi associado a sobrepeso infantil [OR, 1,08 (IC de 95%, 0,65 a 1,08); aOR, 1,04 (IC de 95%, 0,60 a 1,80) para mulheres com história consumo diário dessas bebidas comparadas àquelas que não as consumiram].

"Encaramos os resultados de Azad et al. como preliminares", escreveram Mark A. Pereira, PhD e o Dr. Matthew W. Gillman, médico, no editorial que acompanha o estudo.

"Eles não abordaram a questão de substituir as bebidas contendo adoçantes artificiais pelas bebidas adoçadas com açúcar, que em si mesmas — talvez surpreendentemente — não foram associadas aos desfechos".


O Dr. Pereira e o Dr. Gillman destacam a atenuação do efeito observado pelos autores após o ajuste pelas covariáveis, incluindo o IMC pré-gestacional e o diabetes gestacional. "A atenuação significativa sofrida pelas covariáveis observadas levanta a possibilidade de confusão residual decorrente da aferição imprecisa, bem como a confusão não mensurável de fatores pré- ou pós-natais associados tanto à ingestão materna de bebidas contendo adoçantes artificiais, como ao peso do bebê", escrevem os editorialistas.

Mesmo assim, suas conclusões são importantes e mostram a necessidade de novas pesquisas, escrevem os Drs. Pereira e Gillman. "Estudos experimentais com animais e pequenos ensaios intervencionistas com gestantes podem explorar estes mecanismos. Os estudos de coorte observacionais devem incorporar a substituição, bem como outros modelos, e permanecerem atentos aos fatores de confusão. Ensaios clínicos randomizados substituindo as bebidas contendo adoçantes artificiais pelas bebidas adoçadas com açúcar ou, igualmente valiosos, substituindo as bebidas contendo adoçantes artificiais por água, seriam particularmente úteis".

"Dada a atual epidemia de obesidade infantil e o consumo generalizado de adoçantes artificiais, justifica-se plenamente a realização de outra pesquisa a fim de replicar nossas descobertas em outras coortes, avaliar adoçantes não nutritivos específicos e desfechos de longo prazo, bem estudar os mecanismos biológicos subjacentes", concluem os autores.


Referência:
  • AZAD, Meghan B. et al. Association Between Artificially Sweetened Beverage Consumption During Pregnancy and Infant Body Mass Index. JAMA pediatrics, 2016.

Dr. Audie Nathaniel Momm - Médico
Mestre em Ciência e Tecnologia de Alimentos

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